Ingrid Silva, primeira bailarina do Dance Theatre of Harlem

por Giulia Lapetina ,

23/10/2019 18:45

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Ingrid dos Santos Oliveira Silva (@ingridsilva) é o nome da primeira bailarina do Dance Theatre of Harlem, companhia de Nova York que comemora 50 anos de trajetória e veio ao Brasil para algumas apresentações. Ingrid vem da Benfica, periferia do Rio de Janeiro, e conheceu a dança quando entrou no projeto “Dançando para não dançar”, com 8 anos. Através dele teve a oportunidade de fazer a audição, aos 17 anos, para o Dance Theatre of Harlem. Desde 2008 ela participa da companhia e, há 7 temporadas, como primeira bailarina.

“Projetos sociais são importantíssimos para formação de um cidadão, graças a essas iniciativas eu tive a oportunidade de conhecer a arte e a dança, que mudaram minha vida pra sempre.”

Bem nova, Ingrid teve de deixar o Brasil. Ela conta que, apesar de ter sido muito difícil lidar com uma nova cultura, sendo tão jovem, sempre teve apoio da família e se sentiu muito à vontade ao ver pessoas parecidas com ela, quando chegou na companhia.

“O Brasil é o país da diversidade, mas você não vê isso em grandes companhias”.

Quando perguntamos sobre o mercado para quem fica, Ingrid diz não ver muitas mudanças desde seu início de carreira. Ainda tem muitos amigos bailarinos saindo do Brasil para seguir carreira no exterior. “Gostaria muito de poder ter uma companhia brasileira com bastante diversidade! Ter uma bailarina negra clássica numa das nossas grandes companhias aqui, por exemplo, é um passo que está demorando, mas é necessário para que os futuros bailarinos não tenham que sair do seu próprio país!”

Sobre o ambiente do balé e sua fama de ser repressivo e competitivo, Ingrid conta: “São ambientes que podem deixar você mentalmente (e fisicamente) doente. A competição é algo muito perigoso, porque se não tiver uma boa criação em casa, pode acabar se influenciando e, de certa forma, corrompendo seus valores. Sobre ser repressivo, depende muito de diretores e professores. São ensaios que duram horas, então tem que ter alguém a colocar ordem! Bailarinos não podem se calar, tem que dar opinião.”

Ingrid também nos contou um pouco mais sobre sua trajetória, representatividade na dança, projetos e seus planos para o futuro. Em sua passagem por São Paulo, a bailarina foi entrevistada no programa “Conversa com Bial” junto a Ismael Ivo, o primeiro diretor negro em 50 anos do Balé da Cidade e a questionamos sobre a visibilidade negra no Brasil e no mundo.

Observando os integrantes e quem acompanha os espetáculos de dança, há uma mudança positiva na representatividade negra no Brasil e no mundo?

Essa mudança está acontecendo, mas está sendo bem devagar. Ainda hoje as companhias de danças brasileiras seguem padrões europeus e não é por falta de talentos negros, já que temos muitos num país, onde a maior parte da população é negra. Mas as pessoas que estão à frente dessas companhias não estão tomando os primeiros passos para trazer essa diversidade ao palco. Ter um diretor negro e uma bailarina negra são coisas que podem fazer muita diferença no futuro. Afinal, se você não se vê atuando em posições de destaque, como vai saber que é possível?

Você com certeza é uma inspiração para garotas que como você, são muito talentosas, mas vem de contextos sociais vulneráveis. O que você diria para elas?

É muito importante acreditar em si, é importantíssimo que cada bailarina leve isso consigo. Parece clichê, mas se você não acredita em si, quem vai acreditar? Não importa onde você esteja, que tipo de trabalho você faça; com coragem, determinação e trabalho duro você chega onde você quer chegar.

Nos conte sobre a EmpowHer New York, plataforma que você fundou para dar voz às mulheres.

O Empowher New York é uma plataforma colaborativa, criada para dar voz às mulheres reais que batalham para conquistar seus sonhos e objetivos. A ideia do projeto é criar um espaço seguro para que todas possam falar sobre suas experiências, dificuldades e conquistas, sem julgamentos, incentivando a sororidade e o diálogo. No perfil @EmpowHer_NY, apresentamos a vida e a rotina de diferentes personagens. No formato “Take Over”, elas têm liberdade total de criação e dividem um pouco de sua jornada e dia a dia. Além disso, promovemos três encontros anuais, onde movemos nossos esforços do mundo digital para a vida real. Nós somos uma rede muito extensa, hoje contamos com 16.000 mulheres que fazem parte dessa comunidade, que se ajudam e se conectam. O nosso mais importante foco é o networking entre mulheres para que elas tenham mais possibilidades e oportunidades no mundo de hoje.

Quais são suas perspectivas e planos para o futuro?

Meus planos pro futuro são: continuar dançando pelo mundo todo, trabalhando e mostrando muito do que tenho pra aderir em nosso país. Meu sonho é dar aula em escolas sem acesso à arte, viajando pelo Brasil. Gostaria muito de fazer um evento do EmpowHerNY aqui no Brasil, porque é fundamental conectar mulheres e trazes a elas novas oportunidades.

Qual foi seu repertório favorito de dançar, e qual foi o mais desafiador?

Romeu e Julieta - Balcony pas de deux foi definitivamente um dos mais difíceis que dancei na minha carreira e um dos mais transformadores.

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